quinta-feira, 9 de agosto de 2007

Teorias Organizacionais; uma proposta de análise e escolarização através da metáfora de contextos.

PUC – SP
Mestrando em Administração
Aluno: Ernani J. Alves
Artigo Científico

Teorias Organizacionais; uma proposta de análise e escolarização através da metáfora de contextos.

Alves, Ernani José

Resumo
O futuro das escolas de pensamento na teoria organizacional deverá incluir disciplinas que ultrapassem o campo sociológico das organizações. A Pesquisa empírica já nos fornece indícios de que o comportamento organizacional possui perfil multifacetado em razão da complexidade do ambiente e principalmente da psicodinâmica cognitiva dos indivíduos que constroem e destroem as organizações. Este artigo tem por finalidade traçar possíveis tendências das escolas de pensamento de estudos de teorias organizacionais através de metáforas de contextos, onde se faz necessário a adoção de conceitos multidisciplinares para compreensão da trajetória de novos paradigmas do campo da administração.
Palavras chave: Teoria das organizações, metáforas, contextos, escolas e administração.

Abstract
The thought schools future in the organizational theory must includes disciplines that overtake the sociological field of the organizations. The empiric research brings us indications that the organizational behavior owns profiles of different areas of knowledge, thanks to the complexity of the environment foremost to the individual psychodynamic cognition which builds and destroys the organizations. This article has for purpose to outline tendencies in organizational theory organizations schools thought context metaphors which brings out the necessity of adoption of multidisciplinary concepts the news paradigms of the administration area.
Keys word; metaphors, Theory Organizational, contexts, schools, administration, management

Introdução

Há uma grande preocupação com o futuro da escola na teoria organizacional. A crescente geração de conhecimento na teoria organizacional não significa efetivamente que desenvolvemos bem esse conhecimento de como surgiu a estrutura de escolas, esse conhecimento deverá focar processos pelos quais estabeleçam novas escolas como estruturas legítimas na teoria organizacional. A problemática é criar escolas de pensamento como uma proposta de estrutura teórica integrada por pensadores intelectuais que forneça pontos de vistas distintos sobre as organizações em função de ações empíricas de pesquisa.
Os estudos organizacionais induzem à reflexão sobre os fenômenos das ações organizacionais, fato este isolado e abrangente em Teoria das Organizações, não sendo talvez tão atrativo ao público de gestão organizacional, por se tratar de reflexões de âmbito conceitual e teórico. Há, no entanto, muito mais que um exercício intelectual em compreender a gestão das organizações através dos estudos organizacionais, pois nela trafega as mais variadas disciplinas e sua complexidade não favorece a uma linha de pensamento linear, determinista, pelo contrário, sua proposta é plural bastante abrangente e conduz a trilhar por caminhos desconhecidos.
Os estudos organizacionais propostos atualmente contribuem para uma visão de organização bastante frágil devido a que nenhuma luz teórica pode-se explanar de forma peremptória a casualidade da diversidade de contextos, é preciso avançar em pesquisas empíricas de campo, de modo a traçar novas diretrizes que favoreçam a compreensão de fenômenos organizacionais dos quais ainda não se pode concluir através da causa, efeito e hipóteses de tais fenômenos. Não há a pretensão em criar um meio de decifrar efetivamente os fenômenos organizacionais, contudo, há intenção de ampliar o escopo dos estudos organizacionais através de outras disciplinas, pois, cada vez mais a organização se conceitua de multiteorias como sendo um processo codificado que concentra em sua essência uma ciência social ambígua, mutável e complexa.
Apesar da limitação, as metáforas (Morgan G.) foram as que mais legitimaram em refletir o que são e o papel das organizações no contexto social, o campo do comportamento organizacional ganhou maior dimensão fazendo conexão a outras áreas de conhecimento, o poder exercido pelas organizações tem apelo político e a cultura passou a exercer uma significativa relação com o poder, além de ser religiosamente determinante na condução ao sucesso ou fracasso das organizações. O indivíduo tem papel central na evolução intelectual no processo de estruturação de escolas de pensamento na teoria organizacional, pesquisas empíricas não serão suficientes para que entendamos sua complexidade, será preciso que as escolas produzam construtos através de fenômenos sociais, psicológicos, econômicos e antropológicos, talvez precisaremos beber em fontes ainda desconhecidas da teoria organizacional para conhecermos uma linha de pensamento onde não há linearidade em decifrar o funcionamento das organizações.

Perspectivas futuras

A conjuntura atual nos desfia a entender que a organização no futuro deixará de ser contexto para ser indivíduo, pois o contexto terá um sentido mais amplo, se caracterizará como sendo uma sociedade universal e como resultante desta relação já temos prévios indícios catastróficos sobre nosso planeta como aquecimento global.
A organização vista como indivíduo (figura 1) terá papel crucial no desenvolvimento da sociedade do conhecimento, promoverá o senso de gestão participativa sob a bandeira da ética tornando a efetiva responsabilidade social como fator de sua sobrevivência e não mais pelo mero brilho do marketing. Caminhamos para uma organização-indivíduo cada vez mais fragmentada onde em seu cerne encontraremos especificidades de ordem plural em função do ramo de negócio, de pessoas que exerceram papel de indivíduo no passado e que agora se projetam como atores do conhecimento, de recursos e tecnologia que deverão ser ajustados aos interesses do meio ambiente e não de forma predatória como é atualmente.
Muitas organizações têm buscado patamares superiores de performance, estruturando parte ou o todo de seu trabalho em equipes. A gestão das organizações sempre foi marcada pela eficácia, sinalizada através de indicadores, a maioria deles quantitativo e financeiro: lucratividade, participação de mercado, produtividade etc. Contudo, esses indicadores não serão suficientes na mensurabilidade do desempenho da organização, fatores externos de representação social e de recuperação do meio ambiente deverão fazer parte do escopo de controle e de compromisso com a ética. Em gestão o questionamento ético ficou muito tempo na sombra, há, no entanto, a necessidade de emergir a ética como importante elemento de reflexão e inclusão nos interesses da organização de iniciativa privada e pública.
Os desgastes que nosso planeta vem enfrentando ao longo dos anos como o desmatamento e principalmente o aquecimento global, vem se traduzindo como uma espécie de “efeito colateral do desenvolvimento” que a natureza nos impõe em razão da falta de ética em não preservar nosso planeta, ou seja, produzir o “desenvolvimento” a qualquer custo. As ações das organizações do futuro deverão passar pelo crivo da ética, onde a importância da biologia deverá ser cada vez mais disseminada entre a população e os gestores do desenvolvimento.
Quanto à adoção por novos modelos de gestão das organizações, não há dúvidas de que o Brasil é um grande varejista de idéias cujas gôndolas mais à vista do administrador são as que oferecem prescrições americanas (Burrel, G.). Nossa identidade está mais caracterizada e vista pela imposição da mão invisível do poder do que pela competência.
Se entendermos que o caminho a ser percorrido em busca de novos estudos organizacionais nos submeterá ao mergulho profundo em incertezas e ao mundo de verdades não fixista (Prigogine), daremos um grande passo em contribuir para ao avanço da ciência sociais e humanas de forma plural, cheia de encruzilhadas e curvas com pontos de vista diferentes sobre um mesmo contexto de realidade.

Discussão

“Atores do Conhecimento em estudos organizacionais”

O indivíduo nunca esteve tão presente como agora nas organizações, atribuímos esse fato graças aos estudos de seu comportamento norteado de variáveis do campo biológico, psicológico e social. O indivíduo até no início dos anos 70 era visto como parte de uma peça mecânica que fazia parte de uma engrenagem sistêmica, seu comportamento era orquestrado pelos superiores e o simples manifesto contrário ao que era imposto, bem como o ato de pensar, eram proibitivos.
Em razão taylorismo evidentemente que em estudos organizacionais podia-se constatar que o indivíduo havia desaparecido, pois seu comportamento imutável favoreceu a um palco onde apenas o contexto passou a ser foco, e à luz desse mesmo palco residia um individuo padrão sem brilho e expressão.
Após a descoberta de que o indivíduo é mais que um ser pensante notou-se também que ele possuía valores individuais, necessidades e através de suas cognições ele fazia o ambiente e da mesma forma que esse ambiente passava por transições, seu comportamento também transitava. Os interesses coletivos predominam no campo dos estudos organizacionais, e são determinantes para a reflexão sobre os fenômenos sociais, dos quais seriam humanamente impossíveis de serem analisados sob uma perspectiva individual. A partir do momento em que nos destinarmos a estudar o indivíduo como elemento com característica singular em um sistema como a organização, cometeremos uma grande falácia, pois toda organização está representada pelo esforço e mente coletiva.
Estudos sobre comportamento organizacional, bem como o individuo só poderão ser avançados através do enfoque ao contexto, pois é aí que reside o ator do conhecimento, com mente plural dominado pelos mais diversos aspectos, sejam eles psicológicos, econômicos, antropológico e cultural, ou seja, um indivíduo multifacetado que nos desafia a melhor compreendê-lo através do incurso ao estudo de uma matriz pluridisciplinar (Chanla T, J.).
Metáforas de Contextos

Vive-se em tempos turbulentos e de constates mudanças, teorias que já foram consideradas como solidamente fundamentadas estão tornando-se âncoras para uma nova ciência e paradigmas. Além da inovação, continuidade e escopo (Mckinley, W) o processo de escolarização em estudos organizacionais deve incluir contextos. O contexto é um fenômeno norteado de situações cujas características implícitas nos impossibilita de ter o seu domínio no sentido amplo para predizer exatamente o futuro.

Os contextos expressam um conjunto de realidades problemáticas em que a organização está inserida, assim, ainda que o uso de metáforas nos favoreça em ver e entender as organizações, ao mesmo tempo ela é limitada, impedido-nos de vê-las de outra maneira. Não esperemos que a metáfora nos conduza ao conforto através de respostas definitivas, há complexidade e diversidade de pontos de vista diferentes. A metáfora de contextos (Figura 1) proporcionará criar um novo conceito de escolas de estudos organizacionais através de conhecimentos e simbologia arquitetados de ordem plural.
O grande equívoco que pesquisadores podem cometer em estudos organizacionais, é não compreender que na década de 60 a organização teve em seu cerne a burocracia como camisa de força que impunha meios a comunicabilidade e controle, e que em novos tempos esta mesma camisa não é mais regida pela burocracia, mas sim, pelo aprisionamento intelectual em decifrar conceitos e teorias únicas pertencentes apenas ao campo de estudos organizacionais. Conforto e facilidade não são palavras de ordem para criar conhecimento, é preciso entender que o fenômeno da globalização rompeu com a sociedade determinista e previsível, é preciso mergulhar em águas turvas, não há fronteiras para a construção de novos pilares do conhecimento se quisermos efetivamente dar um novo tom aos estudos organizacionais sem a dependência de pesquisas empíricas ou construtos ideológicos.
A ciência normal sofreu anomalias e a construção de novos paradigmas favoreceu o surgimento de uma nova concepção de ciência - uma “ciência renovável” (Kuhn T.) e cada vez mais complexa. Portanto, as metáforas devem criar um paisagismo simbólico de efeitos das ações organizacionais propiciando a interpretação de contextos fazendo interface com outras disciplinas sem o vínculo restrito à ciência social.
Uma metáfora, muito usada em economia para dar significado à vulnerabilidade econômica de países emergentes, ou seja, que não deslancham, vivem altos e baixo é o “vôo da galinha”. O que os economistas não contavam é que esta metáfora antes de ser aplicada ao contexto econômico ela é iniciada pelo contexto das organizações, e nos encoraja a refletir que há várias razões pra explicar esse fenômeno, ou seja:
-As organizações vivem altos e baixos apenas em razão da política econômica?
- O comportamento humano é uma resultante exclusivamente de seu poder econômico?
-A adoção por recursos tecnológicos (inovação) deriva apenas do poder aquisitivo das organizações?
Portanto, o vôo da galinha sob contexto organizacional nos remete a concluir que economia e administração fazem parte da ciência social influenciadas por outras disciplinas das quais economistas e administradores não possuem domínio de articulação devido à determinação de escopo pouco abrangente.
Para uma melhor exemplificação, sugere-se que o “Plano de vôo” pode ser uma metáfora melhorada do “vôo da galinha”, em outras palavras, aqui submete-nos a pensar a que altitude (regulamentação) se deseja alcançar, quais escalas (metas) devemos seguir, que aeronave, tripulação e passageiros (recursos) são necessários e em quais condições climáticas (ambiente / mercado) e ambientais este vôo pode ser realizado pra se chegar ao destino (objetivo / lucro).

Conclusão

A intenção é propor que as metáforas de contexto contribuam para um novo processo de escolarização em teorias organizacionais e nos libertem de uma prisão psíquica em não mais persistir que o sentido da metáfora tenha que ter um enfoque determinístico no campo da administração, pois a abrangência desse contexto não trará luz teórica ou conceitual inédita às organizações, também, não há pretensão em migrar para outras áreas de conhecimento, o apelo é para consciência da interdependência de estudos organizacionais com outras ciências além das ciências sociais tais como antropologia, psicologia e biologia, disciplinas estas que deverão ser contextualizadas em estudos organizacionais como proposta de análise e reflexão de fenômenos ainda poucos decifrados em razão da pouca aplicabilidade e interface de outras áreas de conhecimento não pertencentes ao escopo do campo administração.

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