quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Pesquisa Social em Administração: teoria e método

Resenha: MINAYO, - Pesquisa Social: Teoria, método e criatividade

A Pesquisa Social

O autor discorre fortemente duas tônicas sobre a pesquisa social, sendo a primeira uma abordagem mais teoria e abstrata, polêmicas do mundo cientifico e conceitos básicos de pesquisa. A segunda parte, ressalta a importância da parte técnica: ensina como fazer.

No primeiro capítulo é destacado o conceito de ciência, suas interfaces, seus significados que têm como princípio ser uma expressão de busca não exclusiva, não conclusiva e não definitiva. Alguns questionamentos são postos em torno da ciência. A primeira é de tratarmos de uma realidade da qual nós próprios somos agentes: - essa ordem de conhecimento não escaparia radicalmente a toda possibilidade de objetivação?

Segundo, será que a objetivação não descaracteriza o que há de essencial nos fenômenos e processos sociais, ou seja, profundo sentindo da subjetividade?

O objeto das Ciências Sociais é histórico, ou seja, cada sociedade existe e se constrói num determinado espaço e possui características especificas. O objeto das Ciências sociais além de ser essencialmente qualitativo é uma realidade social e se apóia no dinamismo da vida individual e coletiva com toda riqueza de significados dela transbordante. As Ciências Sociais possuem instrumentos e teorias capazes de fazer uma aproximação da suntuosidade da existência dos seres humanos em sociedade, ainda que de forma incompleta, imperfeita e insatisfatória.

A proposta deste livro é tratar do caráter s especificamente qualitativo o da ordem e desordem da relação humana, da metodologia apropriada para reconstruir os processos, as relações, os símbolos e os mais diversos significados da realidade social.


Metodologia de Pesquisa

Entende-se como um caminho do pensamento e a prática exercida na abordagem da realidade que inclui simultaneamente a teoria da abordagem (método) dos instrumentos de operacionalização do conhecimento (técnicas) e a criatividade do pesquisador (experiência e capacidade pessoal)


Pesquisa

Atividade básica da ciência na sua indagação, na alimentação e construção de uma nova realidade. Neste sentido, toda investigação se inicia por uma questão, por um problema ou por uma pergunta


Teorias

É a tentativa de explicação ou para compreender um fenômeno, um processo ou um conjunto de fenômenos e processos e se apresentará como um conjunto de preposições, um curso abstrato sobre a realidade.


Proposições

São declarações afirmativas, são hipóteses comprovadas sobre fenômenos ou processos sobre os quais interrogamos; devem ser capazes de lançar a luz sobre questões reais, claras e precisas nas relações abstratas entre elementos, fatos e processos que buscam explicar ou interpretar.



Conceitos

São vocábulos ou expressões carregados de sentido, em torno dos quais existe história e muita ação social. Os conceitos podem ser classificados como teóricos; permanecem no nível da abstração, observação direta; são os que definem os termos com os quais o pesquisador trabalha em campo, observação indireta; com base na relação do contexto da pesquisa com os conceitos de observações direta.


Pesquisa qualitativa

Se ocupa, nas Ciências Sociais, com um nível de realidade que não pode ou não deveria ser quantificado. O universo da produção humana que poder ser resumido no mundo das relações, das representações e da intencionalidade e é objeto da pesquisa qualitativa dificilmente pode ser traduzido em números e indicadores quantitativos.


O Projeto de Pesquisa

O autor discorre sobre as etapas de um projeto de pesquisa, seus elementos centrais, sugere alguns procedimentos a pesquisadores que deverão ter em mente uma perspectiva de trabalho árduo e que exigirá um esforço intelectual intenso.

Há pelo menos três dimensões relevantes sob contexto de um projeto de pesquisa: ideológica, científica e técnica. A dimensão ideologia refere-se às escolhas do pesquisador a partir de que base teórica e como pesquisar, a dimensão científica visa a ruptura do senso comum, quebra de paradigmas, baseia-se na desconstrução e construção de novas realidades e a dimensão técnica trata-se das regras reconhecidas para construção de um projeto, definição de um objeto, como abordá-lo e como escolher os instrumentos mais adequados para a investigação.

O propósito de um projeto de pesquisa também necessita ser comunicado para que este seja aceito na comunidade científica. Através deste, outros especialistas poderão tecer comentários e críticas, contribuindo para um melhor encaminhamento da investigação.

Um projeto de pesquisa é marcado por atividades e atitudes de caráter técnico e subjetivo, vejamos a seguir;

Pesquisa bibliográfica; critério claro dos textos e autores; Crítica; capacidade comparativa e analítica em relação aos outros, é preciso estabelecer um dialogo reflexivo entre as teorias e outros estudos.

Articulação criativa; seja na delimitação do objeto de pesquisa ou na aplicação de conceitos-trabalho originais e inovadores se iniciam sem perguntas que ainda não foram formuladas.

Humildade; reconhecer que todo conhecimento científico tem sempre o caráter aproximado, provisório inacessível à totalidade do objeto e vinculado a vida real.

O autor também discorre sobre os elementos constitutivos de um projeto de pesquisa e estabelece algumas perguntas como; O que, para que, por que, como e por quanto tempo pesquisar, sendo estas questões fundamentais para a construção de um objeto de pesquisa, bem como formulação de hipóteses, definição de objetivos, contextualização da justificativa, metodologia e cronograma das atividades.

As questões éticas também são citadas como alvo de preocupação dos pesquisadores como, por exemplo; a prática do plágio, a fraude, ou seja, quando o pesquisador inventa deliberadamente dados inexistentes a fim de justificar ou embasar suas propostas.

Creio que a grande contribuição deste capítulo foi de orientar objetivamente novos pesquisadores a lidarem com mundo das descobertas, da ciência, da construção e desconstrução de saberes. Um projeto de pesquisa constitui a síntese de múltiplos esforços intelectuais que se contrapõem e se complementam. O projeto deve ser fruto do trabalho vivo do pesquisador, neste sentido, vai precisar articular informações e conhecimentos disponíveis, empregar sua imaginação numa busca incessante por um novo saber, uma nova realidade.


O Trabalho de Campo

O trabalho de campo deve permitir a aproximação do pesquisador da realidade sobre a qual formulou uma pergunta, mas também estabelecer uma intenção com os atores que conformam a realidade e, assim constrói um conhecimento empírico importantíssimo para quem faz pesquisa social. O campo é como um recorte que diz respeito à abrangência, em termos empíricos, do recorte teórico correspondente ao objeto de estudo

O trabalho de Campo deve ser realizado a partir de referenciais teóricos e também de aspectos operacionais, ou seja, não se pode pensar num trabalho de campo neutro. A forma de realizá-lo revela as preocupações científicas dos pesquisadores que selecionam tanto os fatos a serem observados, coletados e compreendidos como o modo como vai recolhê-los.


Entrevista como uma técnica

Tem o objetivo de construir informações pertinentes para um objeto de pesquisa, e abordagem pelo entrevistador, de temas igualmente pertinentes com vistas a este objeto. As entrevistas podem ser caracterizadas como Sondagens de opinião; voltada a responder questões formuladas pelo entrevistador, Semi-estruturadas; combinação de questões abertas e fechadas em que o entrevistado tem a possibilidade de discorrer sobre o tema em questão, Aberta ou em profundidade; em que o informante é convidado a falar livremente, Focalizada; quando se destina a esclarecer apenas um determinado problema, Projetiva; dispositivos áudios-visuais que constitui um convite ao entrevistado para discorrer sobre o que vê ou lê.

Algumas considerações sobre o entrevistados se fazem necessários , sobretudo sobre a formalidade de uma entrevista, seja ela estruturada ou não. Neste sentido, a entrada do pesquiador em campo requer atenção para a Apresentação; ser conhecido e bem aceito, entrar em comunidades ou grupos conflituosos, sem antes saber o que mediador representa, Comunicar o interesse da pesquisa e motivos da pesquisa; pode contribuir diretamente para pesquisa com um todo, explicar a importância e finalidade da instituição à qual o pesquisador está vinculado, para dar segurança a seu interlocutor, Justificativa da escolha do entrevistado; mostrar o quão o entrevistado é importante e o critério da escolha para a entrevista.


Observação participante

É um processo pelo qual um pesquisador se coloca como observador de uma situação social, com a finalidade de realizar uma investigação científica. Pode ser considerada parte essencial do trabalho de campo de pesquisa qualitativa, permite ao pesquisador ficar mais livre de prejulgamentos, uma vez que não o torna, necessariamente, prisioneiro de um instrumento rígido de coleta de dados ou de hipóteses testadas antes, e não durante o processo de pesquisa.

Consolidação do trabalho de campo

Além das informações acumuladas, o processo de trabalho de campo nos leva, freqüentemente , à reformulação de hipóteses ou, mesmo, do caminho da pesquisa. Enquanto armazenamos dados colhidos e os articulamos a nossos pressupostos exercitamos nossa capacidade de análise que nos acompanha em todas as fases.

O trabalho de campo é em si um momento relacional, específico e prático; ele vai e volta tendo como referência o mundo da vida, tendo em vista que a maioria da perguntas feitas em pesquisa social surge desse universo: da política, da economia, da relações e de fenômenos sociais.


Análise e Interpretação de Dados

Algumas observações são feitas pelo autor no que se refere à análise e interpretação de dados, a primeira delas diz respeito ao fato de a análise e a interpretação dentro de uma perspectiva de pesquisa qualitativa não terem como finalidade contar opiniões ou pessoas. Seu foco é a exploração do conjunto de opiniões e representações sociais. A outra observação é acerca das diferenças conceituais entre análise e interpretação, na análise o propósito é ir além do descrito fazendo uma decomposição dos dados e buscando as relações entre as partes que foram decompostas e, por último, na interpretação - que pode ser feita após a análise ou após a descrição, buscam-se sentidos das falas e das ações para se chegar a uma compreensão ou explicação que vão além do descrito e analisado.


Análise de Conteúdo (BARDIN, 1979)

È um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores que não permitem a inferência de conhecimento relativos às condições de produção/recepção destas mensagens.

Destacam-se ainda; análise de avaliação ou análise representacional, ou seja medir as atitudes do locutor quanto aos objetos de que fala, levando em conta que a linguagem representa e reflete quem utiliza . A atitude predisposição relativamente estável e organizada, para reagir sob forma de opinião ou de comportamento em presença de objetos (pessoas, idéias etc. Nesta análise leva-se em conta a direção (a favor ou contra) e a intensidade dos juízos selecionados). Análise e expressão usada para analisar entrevistas abertas. Análise temática o conceito central é o tema.


Procedimentos Metodológicos

Em uma análise de conteúdo a partir da perspectiva qualitativa destacam os seguintes; categorização como uma operação de classificação de elementos constitutivos de um conjunto, por diferenciação e seguidamente, por reagrupamento segundo gênero , com critérios previamente definidos. Inferência também é uma operação pela qual se aceita uma proposição em virtude de sua relação com outras preposições já aceitas como verdadeiras. Bauer (2002) considera a análise de conteúdo como uma técnica pra produzir inferências de um texto focal pra seu contexto social de maneira objetivada.

A interpretação é com base nas inferências, discute-se resultados da pesquisa numa perspectiva mas ampla, trabalhando na produção do conhecimento de uma área disciplinar ou de um campo de atuação. Pode-se considerar que a interpretação consiste em relacionar as estruturas semânticas com estruturas sociológicas dos enunciados presentes na mensagem. Chegamos efetivamente a uma interpretação quando conseguimos realizar uma síntese entre: as questões da pesquisa; os resultados obtidos a partir da análise do material coletado, as inferências realizadas e a perspectiva teórica adotada.

Bases do Método

Segundo autores, um método envolve quatro pólos: a) epistemológico (a partir de um modelo de ciência) b) teórico (conceitos e princípios) morfológico (regras de estruturação do objeto) técnico (controle da coleta de dados e a confrontação entre os dados com a teoria que os suscitou).

Há um dialogo entre duas concepções que nos ajudam a fundamentar o método, hermenêutica (compreensão) e dialética (crítica), nos traz princípios que podem servir de baliza para a operacionalização do método de interpretação de sentidos. Dentre esses princípios, destacamos que, para que possamos interpretar os nossos dados é preciso: a) buscar a lógica interna dos fatos b) situar os fatos, os relatos e as observações no contexto dos atores c) produzir um relato dos fatos em que seus atores nele se reconheçam.

È de fundamental importância que estabeleçamos confrontos entre dimensão subjetiva e posicionamentos de grupos; textos e subtextos, falas e ações mais amplas; cognição e sentimento, dentre outros aspectos. Nele, alicerçados numa base teórica conceitual que procura articular concepções da filosofia e das ciências sociais, tentamos caminhar tanto na compreensão (atitude hermenêutica) quanto na crítica (atitude dialética) dos dados gerados de uma pesquisa.