terça-feira, 17 de maio de 2011

Uma análise crítica dos estudos organizacionais acerca das metáforas de Gareth Morgan

    Os estudos organizacionais induzem à reflexão sobre os fenômenos das ações organizacionais, fato este isolado e abrangente em Teoria das Organizações, não sendo talvez tão atrativo ao público de gestão organizacional, por se tratar de reflexões de âmbito conceitual e teórico. Há, no entanto, muito mais que um exercício intelectual em compreender a gestão das organizações por meio dos estudos organizacionais, pois nela trafega as mais variadas disciplinas e sua complexidade não favorece a uma linha de pensamento linear, determinista, pelo contrário, sua proposta é plural, abrangente e nos conduz a trilhar por caminhos desconhecidos.
    Os estudos organizacionais propostos atualmente contribuem para uma visão de organização bastante frágil, devido a que nenhuma luz teórica pode-se explicar de forma peremptória a casualidade da diversidade de contextos, é preciso avançar em pesquisas empíricas de campo para identificar novas diretrizes que favoreçam a compreensão de fenômenos organizacionais dos quais ainda não se pode concluir por meio de causa, efeito e hipóteses de tais fenômenos. Não há a pretensão em criar um meio de decifrar efetivamente os fenômenos organizacionais, contudo, há intenção de ampliar o escopo dos estudos organizacionais por meio de outras disciplinas, pois cada vez mais a organização se conceitua de multiteorias como sendo um processo codificado que concentra em sua essência uma ciência social ambígua, mutável e complexa.
    Apesar de limitadas, as metáforas (Morgan, 1996) foram as que mais legitimaram em refletir o que são e o papel das organizações sob contexto social, o campo do comportamento organizacional ganhou maior dimensão fazendo conexão a outras áreas de conhecimento, o poder exercido pelas organizações tem apelo político e a cultura passou a exercer uma significativa relação com o poder, além de ser determinante na condução ao sucesso ou fracasso da organização.
    Vive-se em tempos turbulentos e de constates mudanças, teorias que já foram consideradas como solidamente fundamentadas estão tornando-se âncoras para uma nova ciência e paradigmas. Além da inovação, continuidade e escopo, creio que o processo de escolarização em estudos organizacionais deva incluir contextos. O contexto é um fenômeno norteado de situações cujas características implícitas nos impossibilita de ter o seu domínio no sentido amplo para predizer exatamente o futuro.
    Os contextos expressam um conjunto de realidades problemáticas em que a organização está inserida, assim, ainda que o uso de metáforas (Morgan, 1996) nos favoreça em  entender a complexidade da organizações, ao mesmo tempo ela é limitada, impedido-nos de vê-las de outra maneira. Não esperemos que a metáfora nos conduza ao conforto através de respostas definitivas, há complexidade e diversidade de pontos de vistas diferentes. A metáfora de contextos proporcionará criar um novo conceito de escolas de estudos organizacionais por meio de conhecimentos e simbologia arquitetados de ordem plural.
    O grande equívoco que pesquisadores podem cometer em estudos organizacionais, é não compreender que na década de 60 a organização teve em seu cerne a burocracia como camisa de força que impunha meios a comunicação e controle, e que em  tempos atuaid esta mesma camisa não é mais regida pela burocracia, mas sim, pelo aprisionamento intelectual em decifrar conceitos e teorias únicas pertencentes apenas ao campo de estudos organizacionais. Conforto e facilidade não são palavras de ordem para criar conhecimento, é preciso entender que o fenômeno da globalização rompeu com a sociedade determinista e previsível, é preciso mergulhar em águas turvas, não há fronteiras para a construção de novos pilares do conhecimento se quisermos efetivamente dar um novo tom aos estudos organizacionais sem a dependência de pesquisas empíricas ou construtos ideológicos.
    A ciência normal sofreu anomalias e a construção de novos paradigmas favoreceu o surgimento de uma nova concepção de ciência - uma “ciência renovável” e cada vez mais complexa. Portanto, as metáforas devem criar um paisagismo simbólico de efeitos das ações organizacionais propiciando a interpretação de contextos fazendo interface com outras disciplinas sem o vínculo restrito à ciência social.
    Uma metáfora, muito usada por economistas para dar significado à vulnerabilidade econômica de países emergentes para pontuar o crescimento, taxas de juros entre outros de um país é o “vôo da galinha”. O que os economistas não contavam é que esta metáfora antes de ser aplicada ao contexto econômico ela é iniciada pelo contexto das organizações, e nos encoraja para refletir que há várias razões pra explicar esse fenômeno, ou seja:

-As organizações só vivem altos e baixo em razão da política econômica?
- O comportamento humano é uma resultante exclusiva de seu poder econômico?
-A adoção por recursos tecnológicos deriva apenas do poder aquisitivo das organizações?

Portanto, a vôo da galinha sob contexto organizacional nos remete a concluir que tanto a economia como a administração fazem parte da ciência social influenciadas por outras disciplinas das quais economistas e administradores não possuem domínio de articulação devido a determinação de escopo pouco abrangente.
Para uma melhor exemplificação, proponho que o “Plano de vôo” pode ser uma metáfora melhorada do “vôo da galinha”, em outras palavras, aqui submete-nos a pensar a que altitude desejamos alcançar(imposição setorial), quais escalas (estratégia) devemos seguir, que aeronave, tripulação e passageiros são necessários (recursos)e em quais condições climáticas e ambientais (mercado) este vôo pode ser realizado pra se chegar ao destino(lucro e market share).

A intenção é propor que as metáforas de contextos nos libertem de uma prisão psíquica em não mais persistir que o sentido da metáfora tenha que ter um enfoque determinístico em estudos organizacionais, pois a abrangência do contexto não trará luz teórica ou conceitual inédita às organizações, também não há pretensão em migrar para outras áreas de conhecimento, o apelo é para consciência da interdependência de estudos organizacionais com outras disciplinas.